sexta-feira, 29 de agosto de 2014

22:40

22 e 40, voltando pra casa depois de um dia cheio; trabalho, bar e aula na faculdade. Aqui estou de novo percorrendo o túnel da noite com meu carro.
Dirijo fumando um baseado na avenida, pra ver se dou uma animada. Minhas lentes de contato definitivamente não curam o astigmatismo, vejo fantasmas de luz, mas tudo certo.

Faz muito tempo que acidentes não me acontecem, incrível. Agora o trânsito tá parado faz tempo. Não posso movimentar meu corpo, não sei se coloco a mão no volante.
Imagino a mim mesmo ali, dentro do 4x4 parado, um ponto em meio à trama simétrica das ruas. o homem nasce da terra, se alimenta da terra, morre na cidade.
Mas que saco, que bad, ligo o rádio e toca rap, beleza. O refrão da primeira música diz “Fuck da Police!”. Me ajeito no banco, balanço a cabeça - é isso aí, foda-se a polícia. Foda-se o trânsito.
A rádio agora toca “Mind is Playing Tricks on me” do Geto Boys.

At night I can't sleep, I toss and turn
Candlesticks in the dark, visions of bodies bein' burned
Four walls closin' in gettin' bigger
I'm paranoid, sleepin' with my finger on the trigger
My mother's always stressin' I ain't livin' right
But I ain't going out without a fight
See, everytime my eyes close
I start sweatin' and blood starts comin' out my nose
There's somebody watchin' the Ack'
But I don't know who it is, so I'm watchin' my back
I can see him when I'm deep in the covers
When I awake I hear a call burnin' rubber
Vejo três carros de polícia que ocupam metade da avenida, uma espécie de procedimento de segurança, homens farejando homens. Aqueles caras sabem que eu estou doidão, eu sei que eles já devem estar sabendo disso, mas fico frio e passo por eles tranquilo. O trânsito desaparece, me sinto salvo, salvo de figurar nessa maldita crônica cotidiana, livre pra ir pra casa, entrar no quarto, tomar vinho de mesa e ouvir som no fone. Que merda, tanto faz.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O Vigia


-Me sinto um imbecil prepotente
estupidez minha, acreditar que sou prepotente
sofrer com os monólogos de um cara doente - o Vigia,
que me persegue pela vida e me suga as energias
nada concreto
o Vigia é produto do meu subconsciente,
um jeito da ideologia
dialogar com a raiva.
Com o Vigia por perto, é difícil que algo de diferente
aconteça, que alguém me ame
assim de graça.

O Vigia é um cuzão,
foi criado com base em modelos reais
de cuzões espalhados pela cidade
você sabe; o interno e o externo interconectados
capitalismo selvagem do alheio ao privado
o inferno intersubjetivo
a ideologia, Jesus Cristo
o caralho.