segunda-feira, 29 de junho de 2015

Velar(canção)

Um adeus
um abraço seu
Até mais, vá em paz
Suas mãos fazem sinais
que eu não posso entender

Cuide bem de si
cuide bem do que sobrar de si

que eu fico bem
sem você, sem ninguém
eu perdi
você também
e não terei mais a quem velar

Cuide bem de si
Cuide bem do que sobrar de si
Cuide bem de nós
Cuide bem do que sobrar de nós



segunda-feira, 15 de junho de 2015

O Hospital


Jango entrou no grande hospital, e subiu de elevador até o terceiro andar. Andou um pouco a esmo, com a cabeça ainda cansada da noite anterior. Não conseguia se localizar bem nos vastos corredores brancos - ainda que frequentasse o hospital desde menino. De vez em quando, passavam apressadamente por ele lindas estagiárias vestidas em uniformes brancos. Seu desejo clamava fervorosamente por seus cuidados. Os médicos, enfermeiros e funcionários dali lhe pareciam todos mais saudáveis psicologicamente do que ele, isolados que estavam naquele templo de cura, ausentes do espetáculo social.

Herói; era essa a palavra que Jango lia no rosto de cada um deles. “O sentido da existência, para esses inabaláveis curandeiros, é a conservação da existência alheia. Os instintos egoístas, que afligem a maioria das pessoas diariamente, não deve abalar o senso de dever dos médicos e seus assistentes”, pensava com seus botões enquanto não encontrava o departamento cirúrgico. “Os meus regimes de auto-destruição, perversão e sadismo não assustam a esse exército de heróis convictos, determinados a combater a morte a qualquer custo.” tais eram os pensamentos que lhe ocorriam. Jango sentia uma espécie de glória melancólica pairando no silêncio dos corredores.

A serenidade do recinto parecia neutralizar sua mente, ainda nervosa e obscurecida pelos excessos da noite anterior. Chegou enfim à ala cirúrgica, onde foi encaminhado a uma enfermeira de lindos olhos azuis e sotaque nordestino. Ela entregou a ele um daqueles coletes abertos na parte de trás, igual ele sempre via nos filmes, e pediu para que se trocasse no vestiário. Ao andar pelo departamento cirúrgico com o colete verde-claro e uma touca na cabeça, Jango se sentiu pouco respeitável. Suas bolas se recolheram ao toque do ar frio de inverno. Desistiu de manter alguma compostura e se deitou de costas na cama de operações, para que o médico pudesse cortar a pinta volumosa em sua nuca.