sábado, 10 de novembro de 2012

Ghostbusters

Quando era criança costumava pensar sobre a possibilidade de eu ser o único humano na Terra, e que todos os outros eram Aliens fantasiados e estavam me testando, me observando o tempo todo. 
Pensava também que quando eu dormia e acordava na manhã seguinte, não tinha se passado menos de um minuto, e que as pessoas que ficaram acordadas na noite passada ainda estavam lá, em um tempo diferente do meu. Um dia perguntei sobre isso para a empregada, ela não entendeu.
Eu sabia das coisas, quando era criança. 

Corri logo depois da chuva com o céu nublado e o ar ainda frio e úmido, os cigarros que fumei ontem e a bebedeira não me atrapalharam dessa vez. Na praça corria também um senhor que parecia japonês e que devia ter 50 com corpo de uns 30, ele me lembrou um escritor maratonista que escreveu um livro inteiro só sobre correr ('Do que eu Falo Quando eu Falo Sobre Corrida' - Haruki Murakami). Fiquei feliz que só nós dois tivéssemos pensado que correr naquele tempo naquela praça num sábado era mesmo uma boa idéia, com o vento e as poças e tudo. Talvez seja uma característica meio japonesa, pensar desse jeito.

Ilusões flutuam sobre meu cerebelo como fantasmas que não capturei, ainda - sim, eu estou vendo Ghostbusters, fiz um pequeno intervalo. Escrever é uma ótima maneira de capturar fantasmas, ou mesmo criar uma espécie de separação entre mim e eles. Logo percebe-se por que escrevo igual psicótico. Não sou muito inteligente nem muito sensível. Escrevo esses resquícios do mundo que deixo de limpar, que introjeto em ilusão. Muitas vezes me esqueço de que posso simplesmente remover certas barreiras que coloco. Na verdade, isso é muito mais importante do que qualquer preocupação estética. É preciso uma concentração dos diabos.
Humanos em geral acham que esses hábitos artísticos são hábitos homossexuais estéticos, mas escute-os conversando, a gente logo vê que não sai nada de importante das bocas deles. Não entendo como eles mantém as cordas vocais saudáveis com aquele fluxo de palavras gordurosas escorregando de suas bocas o tempo todo. Essas pessoas poderiam simplesmente acabar em 2012, e deixarem o mundo como está. 
Imagina acordar um dia e elas não estarem mais lá, nos escritórios, nas faculdades, nas ruas...Talvez eu arrumasse um emprego estável, ou finalmente me animasse a viajar por aí, conhecer os lugares.