domingo, 11 de novembro de 2012


Resolvi sentar. Chove ralo lá fora. Soltei minha cadela cega e velha – já que ela insiste tanto –, ela agora está andando pela sala trombando com a cabeça nos móveis sem morrer – já que ela insiste tanto – eu não posso fazer nada. Algumas vezes me pego assim andando em círculos, e talvez se eu fosse cego eu sairia mesmo por aí sendo atropelado, apenas talvez. Ou iria para um bar onde tocasse boa música e se me dissessem pra sair eu diria, tal como Bartleby, “Prefiro não fazer”. Minha vocação para a preguiça é digna, é um Dom maravilhoso de um deus que escreve errado por linhas retas. Prefiro não fazer, ou só fazer o necessário para viver e sobreviver bem. Nada de medalhas, nada de honra ao mérito.

Hoje eu vi um adesivo num carro, imitando aqueles de BH: Amo a mim mesmo – incondicionalmente(incondicionalmente escrito na vertical).
Me lembrei de que tenho excesso de verticalidade. Às vezes é tanto que pendo muito pra frente, pareço uma estátua de Giacometti rasgando o espaço..
Tinha medo, pânico do meu peito se colar às minhas costas até eu não conseguir respirar e me partir. Hoje faço exercícios regularmente, e isso me dá uma sensação diluída de existiência. Crio músculos para distinguir meu sangue do pó de concreto. Me libero um pouco de pensar, e de uma certa substância tóxica maior do que qualquer droga. Pensar é ridículo. Prefiriria não pensar, mas não consigo deixar de pensar, acho que comecei a pensar compulsivamente aos 17 anos, foi quando voltei a gostar da vida.
Antes disso na chamada pré adolescência, eu tinha absoluta consciência do meu estado de coma e me punia pelo fato de não conseguir sentir nada, nada por ninguém, nada por dinheiro, família, presentes, nem música. O curioso é que eu tinha uma banda – talvez tenha sido minha muleta existencial naquele tempo.

Hoje tenho uma coleção de muletas. Amo música mais do que antes. Quero ouvir novas músicas, e depois dizer que são minhas, eu que fiz. Pensamentos idosos, eu sei, pensamentos idosos na minha cabeça. Sinto tesão metafísico por certas pessoas, não que eu seja um garanhão, mas eu me garanti algumas vezes com pessoas maravilhosas cheias de defeitos absurdos, todas elas malucas. Cada vez menos companhia para a loucura. Mesmo os poucos, será que foram cúmplices? Prefiro acreditar que sim, mesmo que seja um tiro no escuro. Prefiro acreditar que te amo
Me lembro da cena do meu avô com seu enfermeiro. Mas isso é só um lembrete pra lembrar de escrever depois.