domingo, 6 de abril de 2014

6 de abril

Olhei para meu celular, para o nome - Fulana - e apertei no botão ligar.

Me atendeu uma voz máscula, grave e algo nobre;

- Alô?
- ...alô.
- Quem fala?
- esse não é o telefone da Fulana? eu gostaria de falar com a Fulana por favor
- é o Dr. D?
- sim, é o Dr. D.
- eu sou lucas o namorado da Fulana. Ela disse que não quer te evitar nem nada, mas que não quer te ver. ela falou pra você parar de ficar insistindo desse jeito...
- eu não estou insistindo, ontem ela me atendeu, disse que me ligaria de volta depois de pegar sua comida japonesa, e não ligou.
- então, ela pediu por favor, se você pode parar de procurar ela.
- ah, tudo bem. falou.
- ok, obrigado, falou.

Foi tudo muito educado e formal. já havia acontecido antes com Ciclana, mas eu brigara feio com o sujeito no telefone(o ator mirim, uma espécie de Jack Kerouac sem as bolas, se é que ele as tinha). Dessa vez não. lucas me pareceu ser um bom sujeito. é que Fulana não é como Ciclana. Fulana sabe escolher. não foi a toa que Fulana me escolheu quando ninguém dava um centavo por mim.

eu fiquei com vontade de fazer um chá e me sentar em posição de lótus. aquele sujeito soube fazer com que eu me sentisse confortável com meu luto e minha perturbação.
me sinto calmo, algo melancólico, como se o vento tivesse varrido do meu corpo o último fruto, e a terra absorvido toda a água. O outono se apresenta lindamente desolador.

Fulana se foi. Fulana é nobre.

-

de repente, meus projetos se encontram suspensos no ar. o tempo da suspensão, da espera.
mesmo aqueles projetos que iam a todo o vapor, perderam seu impulso inicial como se estivessem sob infuência da lua, gestante de seu lado escuro.
toco um instrumento. parece mágica, continuo progredindo. apesar da meus hábitos mórbidos, nunca estive tão bem. brilho como uma estrelinha.
e as pessoas passam na minha vida, zunindo para lá e para cá, sem ouvir uma nota.
um escritor famoso uma vez disse que elas só chegam na hora errada. e se vão também, antes da hora.