terça-feira, 15 de janeiro de 2013

virtualidade


perco a substância
a palavra circula sem medo 
todas as declarações serão feitas
em seu devido momento
farei um documentário
de desejos inconclusos

e até uma morena
a quem nunca tive direito
se compraz pelo meu jeito (escrevo certo?)
pelas palavras
e referências
como um dicionário amoroso

é tão mais fácil assim
ministrar saúde e insanidade.

apesar de que às vezes penso em virar um asceta dos dispositivos virtuais. recusar os prazeres do gozo narcísico. hoje, quem não goza, o desejo pelo outro elevado à condição de imagem, som, palavra? milhões de cérebros. milhões. 
eu ainda me atrevo a criar algum sentido de completude no que escrevo. serei escravo do Imaginário? o enamorado de Barthes? Quantas vezes já não me equilibrei perfeitamente em cima de uma ilusão, sabendo que era ilusão? Ao pensar nisso tenho a sensação de estar à quilômetros de altura, em cima de uma nuvem de poeira branca. Dela, talvez eu já tenha caído há muito tempo, talvez esteja caindo ainda agora, sem qualquer sinal de chão por baixo. Há objetos também, caindo no espaço. Cadeiras, pessoas, convites. Ébrios, o ar penetra nossos corpos sem piedade. 
O ar da mudança constante, eterna.