segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Mancha de cor

mas olhar-te; minha maior dificuldade desde criança, ver qualquer coisa. Mas aí implicaria ver com o corpo todo, e isso poderia fazer, imagino, mas não dessa maneira.

sua visão me ultrapassaria como se eu fosse apenas um detalhe na perspectiva, quase sempre desfocado na sua máquina de ver, e eu agradeceria, cheio de secreto júbilo, por ser parte do enquadramento.

Nunca se vê na foto se esboçei foi um sorriso ou se disse alguma coisa com os olhos - apenas um borrão, uma mancha de cor.
Eu: um homem sem foco.

Foram poucas as vezes que seus olhos se focaram nos meus. um olhar concentrado negro e fluido.
Você em plena saúde física e emocional e eu perdendo as calças da minha alma - ambos na flor da idade.

Nunca voltei a realmente sofrer daquela maneira, em plena luz do dia, sem tocar em nada ou fazer qualquer barulho..nem mesmo compreender coisa alguma. Em outras palavras, nunca vivi tanto, e em estado tão deplorável.

dor tão visceral a daquele tempo, que hoje tudo quanto diz respeito a você faz todos meus sentidos implorarem por vida. Te querer não é uma opção: é um instinto.

Percorrer-te com os olhos me deixaria satisfeito, agora que sei sublimar o excesso e cortar meus impulsos. E ser um detalhe desfocado, porém radiante de felicidade nas fotografias.