domingo, 16 de dezembro de 2012

plantando dúvida

Não que eu não me lembre do conteúdo dos livros que li. Mas raramente consigo me lembrar diretamente quando me perguntam "sobre o que fala esse livro?". Numa situação dessas não consigo acessar minha memória, tanto para livros quanto para filmes(filmes costumam ser mais difíceis).
Esses livros depois de lidos se tornam formas, pensamentos arquivados sob uma espécie de código ou algo assim. Preciso de um estímulo para relembrá-los, como preciso do cheiro para revisitar certas emoções. Uma coisa leva a outra, e logo se consegue reconstruir o formato da lembrança.

O importante é não encalhar na linguagem. Não conseguir transmitir algo essencial da sua personalidade, ficar preso nas malhas da linguagem, isso leva à loucura. E talvez grande parte da loucura social esteja relacionada à isso, tanto que a insanidade foi gradualmente transformada em lugar comum. Se perder dessa forma atualmente é desesperador, visto a liberdade que os publicitários(cínicos por escolha própria) se dão para manipular através da palavra. E enchem cada vez mais os escritórios de psicologia, e assim nós gastamos nosso dinheiro por uma hora e meia de atenção duvidosa, quando nem sequer sabemos verbalizar nossos desejos. Temos que ficar repetindo várias e várias vezes, e o psicólogo detecta os pontos em que o inconsciente se deixa revelar. É legal, mas não deveria ser tão complicado assim, deveria? Porque é que nossa educação nos condiciona a não tomar conhecimento de nós mesmos, quando deveria exercer o papel contrário? E porque é que não podemos nos afirmar de forma única sem sermos tachados? Sem que reafirmem sempre, afundados no lodo de suas cabeças sedentárias: você é diferente.
Por que é que, mesmo numa cidade grande como essa,  a vergonha é generalizada? Tenho a impressão de que estou vivendo num eterno jardim de infância por aqui.

Pessoas sãs conseguem se locomover na linguagem, transferir, sublimar, relativizar. Essa liberdade de movimentos se conquista apenas com a diversidade de meios(arte como meio de expressão), ou mesmo com o conhecimento de outras línguas e culturas, tão complexas quanto a materna. Não é uma questão de se resolver, mas de se diluir na linguagem e através dela. E nem todas as línguas permitem uma expressão fluida, creio que o próprio português, tal como o usamos, careça de formas de expressão.