quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

baiana

Olhei pela janela, a favela estendida sobre o morro.
Casas de tijolo se confundiam, uma ou outra verde água ou cor de creme como manchas pintadas, pontos de luz sobre uma pele sépia.
Olhar com atenção para as ruas pequenas dessa favela por entre as mangueiras de um verde escuro me dá uma pequena sensação de nostalgia. Penso em outra sociedade quando eu vejo as motos subindo aquelas vielas, pessoas se cruzando com sacolas plásticas, subindo e descendo ruas que à noite se tornam perigosas.
Penso em uma baiana negra carregando sobre a cabeça uma cesta com qualquer coisa dentro, talvez o peso de uma vida inteira, numa outra cidade qualquer onde vive-se por viver. O sol dessa tarde bateria sobre os ombros dela, e eu aqui sonhando dentro do apartamento.
Não que eu queira  ter uma vida difícil ou uma pele bronzeada, mas gostaria de poder caminhar com algo na cabeça numa tarde como essa, apenas como  um pretexto para estar ali e cumprimentar as pessoas, tendo o sol em comum.
Esse tipo de simplicidade que individualismo nenhum compra, que não pode ser conquistado através de planos, cronogramas ou padrões. Esse tipo de coisa sublimada que quando nos damos conta, nós perdemos, e quem perdeu, ganhou(a infância de volta).
E eu estou apenas imaginando essa cena, me certificando que faço parte de uma classe média que só aumenta e engorda e vai escorregar na praça do papa aos domingos.