sábado, 20 de outubro de 2012

essa vida de bacharel

Ultimamente é isso que eu digo, essa vida de solteiro não é tão ruim quando você olha por esse lado, você está completamente bêbado, mas não envelheceu nesses últimos meses. Seus olhos brilham e sua baba cintila junto à sua pele oleosa, você parece transbordar de uma espécie de inspiração mística que na verdade é falta de sexo - esses dias você não tem dado muita sorte, não que tenha tentado, mas ao menos cogitou tentar ao invés de ligar para sua ex namorada e ser atendido de novo pelo recente namorado dela: um ator mirim de 1 metro e sessenta, com pinta de galã que incentiva sua ex a cortar os pulsos no banheiro. As amigas dela te deram as boas novas: ele mora sozinho em uma casa abandonada cheia de vidros quebrados, ela briga com os pais em casa para poder dormir lá, e paga as drogas pra ele. É como um filme da sessão da tarde, e você só aparece no começo como mero coadjuvante.
Isso foi acontecer justo com você, que adoraria fazer teatro mas nunca fez porque odeia espertinhos que fazem teatro e vivem estuprando o ego das pessoas o tempo todo.
Você foi substituído por um perfeito fetiche humano. Você foi devidamente comparado, empacotado e descartado como um McNugget.
Mas está tudo bem, porque da outra vez que você chingou esse ator mirim ele nem sequer conseguiu responder pela própria mãe, mas olhe só, você ainda é uma espécie de homem das cavernas sem um bom motivo pra viver, e os méritos são deles, do ator mirim e de sua ex infantilóide, e as outras parecem ir muito bem nessa empreitada, obrigado. Na verdade a última coisa que você quer é voltar a namorar. Só pensa em poder encostar seu nariz no dela mais uma vez, tirar uma foto que não tirou, dar mais uma transada, e só.

Cocaína, maconha, cerveja, futuro, amor, cigarros, cursos de espanhol, graduação, emprego, uma volta no quarteirão, todas essas camadas sem sentido da vida se interpenetram. Eles te aplaudiram no dia do aniversário. Parabéns, eles disseram, parabéns.
Você ficou ali se perguntando o que quer dizer essa coisa que ultimamente te espreita do fundo do seu olho quando você se olha no espelho - essa coisa recém chegada que parece estar ficando cada dia maior e mais furiosa e mais silenciosa, e é toda a sua neurose adulta te dizendo bom dia como vai?